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domingo, 14 de novembro de 2010

SAUDADE PERENE

           SAUDADE PERENE


À Willa Freitas


Somente ontem tive tempo para lembrar-me daquele abraço. Que, aliás, foi o primeiro e último, se não me trai a memória. Recordando bem, no nosso tempo de criancice não tivemos essa oportunidade de nos abraçar. Até porque correr livre era a melhor diversão.

Na hora daquele abraço, seus olhos fumegaram de felicidade, enquanto que meu coração pulsava apertado dentro do peito, com batidas descontroladas.

Há exatos quatro anos que nós não nos vínhamos. Ai já viu né? – Bate aquela emoção.

Sei que o seu mundo agora era outro, bem diferente do de antes. Não sei se por influências ou por escolhas próprias. Até porque eu não acredito muito nessas lorotas de destinos traçado.

Em comparação de mundos, o seu sempre tinha sido diferente do meu. Seus pais, bem de condição, (era assim que ouvia a mamãe falar) sempre o presenteava com os melhores brinquedos e o alimentava com as mais saborosas comidas. Enquanto que os meus, sei que não por suas culpas, mas forrava o meu estômago e o de meus irmãos com o velho cuscuz de milharina.

Durante os nossos dias de inverno, que pareciam não ter fim, corríamos nas ruas lameadas todo lameados. Um sentimento verdadeiro de felicidade perambulava em nossas faces. Era assim que me sentir, feliz, pois, esquecia do mundo problemático, ainda desfrutando de suas melhores horas diárias, na companhia de meu querido amigo.

Somente agora tive tempo para recordar dos momentos felizes que nós tivemos. Quantas chuvas ou quantos sol´s nos deu o ar da graça? – Não ouso responder, não tive tempo para contá-los.

Confesso que só não imaginava que o destino iria nos separar para sempre.

Depois daquele abraço, voltamos cada um para o seu mundo real. Eu para a minha simplicidade de vida e de labutas constantes para sobreviver, aproveitando ao máximo o que meus pais me deram como consolo e oportunidades. Enquanto que ele, ao contrário, nada pôde ou mesmo quem sabe não quis aproveitar os benefícios que seus pais lhe doarão. Voltava agora para o seu mundo-destino, o presídio.

Passaram-se anos... Cada um cumprindo sua penitência.

Porém, outro dia folheando o Correio do Tocantins, mas justamente bem no caderno policial, uma noticia apunhalou-me com um golpe de tristeza, sem misericórdia. Lágrimas desceram aos montes de minha face, molhando todo o conteúdo jornalístico... Lá estava sua foto. Seus olhos sem brilho, sem vida. Uma cor vermelha dominava o ambiente. Enquanto seu corpo deitado ao chão de barro permanecia ali intacto. Seus lábios jorravam sangue. Estava ele ali assassinado pela sociedade impiedosa.



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